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domingo, 30 de julho de 2006

"Nunca se sabe quando tudo isso pode ser fatal", baseado em contos fantásticos, é um ótimo espetáculo, por Luciano Loureiro

foto: Ricardo Marques / cenário: Daniele Geammal
"Nunca se sabe quando tudo isso pode ser fatal" é um ótimo espetáculo, produzido pelos alunos formandos da Escola de Teatro Martins Pena e dirigidos por Flávio Souza.

É uma costura de três textos da literatura fantástica, encenados a partir de diversos jogos teatrais. Valoriza mais a linguagem cênica do que os textos. Recheado de humor, adquire uma deliciosa dinâmica capaz de divertir a todos nós.

O cenário, um grande guarda-roupa antigo onde todas as estórias circulam, e a movimentação cênica são o melhor do espetáculo. Em cores e formas, os figurinos são de muito bom gosto e pertinentes à proposta. Abrimos apenas duas ressalvas: o do pai da “Pata do macaco”, que não traduz a cor do personagem, e o arranjo de cabeça que faz com que o mesmo fique menos austero do que deveria.

A trilha sonora e a luz corroboram com tudo, entretanto a operação da luz deve ser mais cuidadosa.

A direção propõe brincadeiras corporais que são responsáveis pela evolução da própria encenação. Nisso, há algo a dizer. Uma pulsação rápida e constante que, embora seja muito eficiente na maior parte do tempo, em alguns momentos estratégicos obstrui a percepção de revelações cruciais ao enredo. O sobrenatural para nós tem uma relação com a interioridade, aquilo que habita submerso em nós, que nos comanda e amedronta. Em suma, o medo em nós e de nós. Por isso acreditamos que se, nestes poucos momentos, o humor fosse deixado de lado e o drama prevalecesse, este contraste traria novas dimensões.

O elenco, muito bem, funciona melhor coletivamente do que em participações individuais. “Venha ver o por do sol” é o melhor pela cumplicidade evidente dos membros. A “Pata do macaco” mostra bom desempenho, embora em alguns momentos, talvez por nervosismo, gritem e gesticulem acima da medida do próprio humor. Em “Vendeta” existe uma celeridade que não facilita a percepção da devida atmosfera e o intento de vingança. Contudo, nada disso compromete o espetáculo...“Nunca se sabe...” é diversão garantida.

Espero que a sua jornada seja repleta de êxitos, pois eles merecem tudo de bom.

Luciano Loureiro
03 de junho de 2006.