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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

PISA: Brasil é reprovado, de novo, em matemática e leitura.

A péssima posição do Brasil no ranking de aprendizado em ciências se repetiu nas provas de matemática e leitura. Os resultados do Pisa (sigla, em inglês, para Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgados ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), mostram que os alunos brasileiros obtiveram em 2006 médias que os colocam na 53ª posição em matemática (entre 57 países) e na 48ª em leitura (entre 56).

O objetivo do Pisa é comparar o desempenho dos países na educação. Para isso, são aplicados de três em três anos testes a alunos de 15 anos em nações que participam do programa. O ranking de ciências, divulgado na semana passada, colocava o Brasil na 52ª posição.

Além de estarem entre os piores nas três provas nessa lista de países, a maioria dos estudantes brasileiros atinge, no máximo, o menor nível de aprendizado nas disciplinas.
O pior resultado aparece em matemática. Numa escala que vai até seis, 73% dos brasileiros estão situados no nível um ou abaixo disso. Significa, por exemplo, que só conseguem responder questões com contextos familiares e perguntas definidas de forma clara.

Em leitura, 56% dos jovens estão apenas no nível um ou abaixo dele. Na escala, que vai até cinco nessa prova, significa que são capazes apenas de localizar informações explícitas no texto e fazer conexões simples.

Em ciências, 61% tiveram desempenho que os colocam abaixo ou somente no nível um de uma escala que vai até seis. Isso significa que seu conhecimento científico é limitado e aplicado somente a poucas situações familiares.

Nos três casos, a proporção de alunos nos níveis mais baixos é muito maior do que a média da OCDE, que congrega, em sua maioria, países ricos.

Comparando o desempenho do Brasil no exame 2003 (que já era ruim) com o de 2006, as notas pioraram em leitura, ficaram estáveis em ciências e melhoraram em matemática.

Uma melhoria insuficiente, porém, para tirar o país das últimas posições, já que foi em matemática que o país se saiu pior em 2006, com médias superiores apenas às de Quirguistão, Qatar e Tunísia e semelhantes às da Colômbia.

Como há uma margem de erro para cada país, a colocação brasileira pode variar da 53ª, no melhor cenário, para a 55ª, no pior. O mesmo ocorre para as provas de leitura e ciências. No de leitura, varia da 46ª à 51ª. Em ciência, da 50ª à 54ª.

A secretária de Educação do governo José Serra (PSDB-SP), Maria Helena de Castro, diz que o resultado em leitura é lamentável. "Essa é uma macrocompetência, básica para que os alunos desenvolvam as outras, como matemática, raciocínio crítico." Nos exames, São Paulo ficou abaixo da média nacional nas três áreas avaliadas.

Suely Druck, da Sociedade Brasileira de Matemática, diz que, em geral, os alunos de outros países, assim como os do Brasil, tiveram desempenho pior em matemática na comparação com as outras disciplinas.

"A matemática se distingue das outras porque desde cedo a criança já tem que ter conhecimento teórico e é um aprendizado seqüencial, ou seja, antes de aprender a multiplicar, tem que saber somar." Por isso, defende que se exija um conteúdo mínimo em matemática para o professor dos primeiros anos do ensino fundamental, quando todas as matérias são ainda ensinadas pela mesma pessoa.

O Pisa permite também comparar meninos e meninas. Em matemática e ciências, no Brasil, eles se saíram melhor. Em leitura, elas foram melhor.

A diretora da Faculdade de Educação da USP, Sonia Penin, afirma que o Pisa (sigla, em inglês, para Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgados ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), revela que a educação brasileira chegou à "calamidade". Leia trechos.

FOLHA - O que o Pisa mostra?

SONIA PENIN - A calamidade da escola pública brasileira.

FOLHA - A educação tem piorado?

PENIN - Não dá para comparar a educação de hoje com a de antigamente. A escola pública brasileira dos anos 50 era só de uma camada muito restrita da elite brasileira. Depois, iniciou um movimento para atender todas as camadas socioeconômicas e culturais. Ainda não completou esse movimento, sobretudo no ensino médio, mas, de qualquer forma, houve um acolhimento significativo. O que se percebe é que a escola está com problemas para atender esta diversidade maior.

FOLHA - Quais são os problemas mais comuns e graves?

PENIN - Tem um problema que é objetivo: tempo de estudo, tempo de exposição à aprendizagem. Apesar da diferenciação muito grande de escola para escola, o tempo letivo de 4 horas, 5 horas nas melhores escolas, é muito pouco para a gente fazer páreo para esses países que estão à frente. Além disso, ainda ocorre que, nessas quatro horas, eles não têm aula. Por ausência do próprio aluno, por ausência do professor ou até por não existir professor.

FOLHA - É o maior problema?

PENIN - Esse é o fator mais claro. Depois, falta valorização e capacitação dos professores. A questão salarial é fundamental, mas não é só isso. Hoje precisa de capacitação dentro da escola para professores, diretores e todos os envolvidos.

FOLHA - E a infra-estrutura?

PENIN - Os equipamentos são importantes, mas hoje muitas escolas estão equipadas e não vemos os reflexos. Há muitos laboratórios de ciências que não são usados. O que falta é o uso dos recursos, ou seja, professores preparados.

FOLHA - Qual a responsabilidade dos pais?

PENIN - Muito grande. Pesquisas mostram que escolas com participação dos pais têm melhores resultados. Nos anos 50, quando só a elite estudava, os pais eram alfabetizados, tinham livros em casa. Se um filho não ia bem, recebia reforço escolar no tempo livre. Hoje muitos pais não têm conhecimento para ajudar os filhos.

FOLHA - Qual a ligação dos resultados com a transferência de estudantes de classes elevadas para instituições particulares e a conseqüente redução na cobrança por escolas públicas de qualidade?

PENIN - Não dá para culpar as pessoas por colocarem os filhos em uma escola ou outra. Isto é um país democrático. Temos que pensar nas questões que podem ser trabalhadas. É o aumento do tempo na escola e o investimento em professor. Disso que temos de falar.

FOLHA - A sra. tem ressalvas em relação ao Pisa?

PENIN - Sempre cabe uma análise da avaliação. Pode ser que as questões pedidas, por exemplo, tenham mais afinidade com as preocupações de um determinado país. Uma outra questão é que esse exame pega alunos por idade. Muitas vezes, nossos alunos de 15 anos estão abaixo da série em que deviam estar, por conta de repetência. Essa seria uma questão pela qual poderíamos dar um desconto a nosso favor. Ou melhor, por nosso prejuízo.

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