Ela estava internada desde o final de 2012 no hospital Sírio-Libanês
A atriz Cleyde Becker Yáconis morreu
aos 89 anos nesta segunda (15), no hospital Sírio-Libanês, onde estava
internada desde outubro de 2012, em decorrência de uma isquemia. A atriz, que
por onze anos foi casada com o ator Stênio Garcia, não deixa filhos.
O corpo
de Cleyde Yáconis foi enterrado em Jordanésia, em Cajamar, a menos de uma hora
da capital.
Cleyde
Yáconis foi uma das mais importantes intérpretes do teatro.
Cleyde
Yáconis era uma atriz de um tempo que já não existe mais. Há muito tempo. Nunca
duvidou do talento comprovado em 72 peças, 31 novelas e oito filmes. Sabia, no
entanto, que emprestaria a mesma dedicação e competência se fosse, por exemplo,
uma médica, esta sim a vocação sonhada na adolescência. “Sou uma mulher das
ciências, introvertida, diferente do esperado de uma artista”, afirmou ela, em
novembro de 2009, na área externa do teatro que leva seu nome no bairro do
Jabaquara, para logo depois reclamar das fotos que ainda seriam feitas. “Não
gosto de fotografia, nunca gostei, o meu trabalho é incorporar da melhor maneira
uma personagem e não ficar fazendo pose para fotos.”
O súbito
mau humor logo passa despercebido quando se tenta analisar a trajetória de
Cleyde Becker Yáconis. A grande atriz não parecia realmente vocacionada. Para
ela, o teatro, a televisão e o cinema eram veículos de trabalho. Apenas isso.
Estreou nos palcos para apagar um incêndio. Durante a temporada da peça “O
Anjo de Pedra”, de Tennessee Williams, em 1950, Nydia Licia ficou doente, e a
única saída do diretor Luciano Salce foi chamar a irmã de Cacilda Becker,
figura comum nos bastidores do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), sempre mais
interessada nos figurinos e nos detalhes de produção. Cleyde era dona de uma
memória prodigiosa e sabia de cor as falas de todo o elenco. O dinheiro começou
a pingar, e veio mais um espetáculo quatro meses depois, “Pega Fogo”. E mais
outro. E mais outro. Quando se deu conta, ela era uma das atrizes mais
requisitadas da companhia e dividia os créditos e os elogios com a irmã que já
era diva – e fazia questão de ser – há pelo menos uma década.
Ser irmã
mais nova de Cacilda levou Cleyde talvez intuitivamente a trilhar um caminho
oposto. Não no rigor da interpretação e tampouco na excelência do repertório.
Mas em uma discrição absoluta e um estilo de vida que passava longe do de
qualquer estrela. Mesmo nos áureos tempos do TBC e da Companhia Teatro Cacilda
Becker, pouco frequentava os restaurantes e locais mais badalados. “Mais de
seis pessoas para mim já é uma multidão”, costumava dizer. Viveu as últimas
décadas em um sítio localizado em Jordanésia, na altura do quilômetro 39 da Via
Anhanguera. Por lá, ela cuidava do jardim e brincava com os cachorros. Só
abandonava o sossego em nome do trabalho. E sem frescuras.
Durante
as temporadas dos espetáculos “Longa Jornada de um Dia Noite Adentro” (2003) e
“Cinema Éden” (2005), ambos encenados no Centro Cultural Banco do Brasil, era
comum vê-la chegando para as apresentações em seu próprio carro, depois de
desbravar o trânsito imprevisível. Por insistência dos produtores, aceitou um motorista
para conduzi-la aos teatros nos suas peças seguintes e derradeiras, “A Louca de
Chaillot” (2006) e “O Caminho para Meca” (2008).
Vez ou
outra, cedia aos apelos da Rede Globo e do amigo Silvio de Abreu para
participar de suas novelas. Foi assim, por exemplo, em “Rainha da Sucata”
(1990), no ar em reprise do Canal Viva, e, mais recentemente, em “Passione”
(2010). Quando a produção da emissora carioca perguntava em qual hotel ela
gostaria de ficar nas estadas no Rio, Cleyde era certeira: “Em algum bem longe
da praia, o mais longe possível. Gosto de ficar perto do mato. O Rio de Janeiro
que gosto é o da Floresta da Tijuca.”
A última
aparição de Cleyde no palco foi entre 27 e 29 de julho de 2012 no Auditório
Ibirapuera, em São Paulo. Ao lado da atriz Denise Fraga, ela participou de um
recital batizado de “Elas Gostam de Apanhar”, em homenagem ao centenário de
Nelson Rodrigues. Foi o dramaturgo quem lhe deu uma de suas personagens mais
célebres, a prostituta Geni de “Toda Nudez Será Castigada”, montada em 1965, e
quem viu disse que não teve outra igual.
Veja as principais peças da atriz
(de acordo com o livro Cleyde Yáconis: Dama Discreta, de Vilmar Ledesma)
·
O Anjo de Pedra (1950) - Rosa Gonzales
·
Pega-fogo (1950)
- Annette
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Seis Personagens à Procura de Um Autor (1951) - a Segunda Atriz
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Convite ao Baile (1951) - Lady Indiana
·
O Grilo da Lareira (1951)
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Ralé (1951)
- Anna
·
A Dama das Camélias (1951) - Olímpia
·
Diálogo de Surdos (1952)
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Inimigos Íntimos (1952)
·
Antigone (1952)
·
Vá com Deus (1952)
·
Divórcio para Três (1953) - Sra. de Brionne
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Treze à Mesa (1953)
- Consuelo
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Assim é, Se lhe Parece (1953) - Frola
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Um Dia Feliz (1954)
·
Assassinato a Domicílio (1954) - Esposa Rica
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Santa Marta Fabril S/A (1955) - Martha
·
Volpone (1955)
- Canina
·
Maria Stuart (1955)
- Rainha Elizabeth
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Eurídice (1956)
- Eurídice
·
Manouche (1956)
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A Rainha e os Rebeldes (1957) - Elisa
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Adorável Júlia (1957)
- Zina Devry
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O Santo e a Porca (1958) - Caroba (Prêmio da APCT de Melhor Atriz) Santa Marta
Fabril S/A (1958)
·
A Dama das Camélias (1959) - Olimpia
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O Pagador de Promessas (1960) - Marli
·
A Semente (1960)
- Rosa
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Almas Mortas (1961)
- Anna Grigorievna
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A Escada (1961)
- Maria Clara (Prêmios Saci, Governador do Estado e APCT de Melhor Atriz, pelo
conjunto de trabalhos)
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A Morte do Caixeiro Viajante (1962) - Linda Loman
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Yerma (1962)
- Yerma
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Os Ossos do Barão (1963) - Verônica
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O Homem com Cartaz no Peito (Reco-Reco) (1965)
·
Tchin-Tchin (1965)
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As Fúrias (1966) - Gorgo
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Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come (1966)
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O Fardão (1967)
- Prêmio APCT de Melhor Atriz
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Édipo Rei (1967)
- Jocasta
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Medeia (1970)
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Um Homem É um Homem (1971) - Viúva Begbick
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A Rainha do Rádio (1976) - monólogo: Adelaide
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A Nonna (1980)
- Nonna
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Em Moeda Corrente no País (1981)
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Campeões do Mundo (1981)
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Ensina-me a Viver (1982) - Maude
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O Jardim das Cerejeiras (1982) - Lhuba
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Agnes de Deus (1983)
- Madre Superiora
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A Lei de Lynch (1984)
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Amante S/A (1984)
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Direita, Volver (1985)
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A Morte do Caixeiro Viajante (1986) - Linda Loman
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A Cerimônia do Adeus (1989) - Simone de Beauvoir
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Baile de Máscaras (1992) - Umberta (Prêmio Molière de Melhor Atriz)
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As Filhas de Lúcifer (1993) - monólogo: Karen Blixen (Prêmio Mambembe de Melhor Atriz)
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Quinze Personagens à Procura de Um Papel (2000)
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Longa Jornada Noite A Dentro, de Eugene O'Neill (2002)
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A Louca de Chaillot, de Jean Giroudoux (2006)
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O Caminho para Meca, de Athol Fugard (2008)
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