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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Eduardo Coutinho, uma perda inestimável para o cinema brasileiro

Cineasta Eduardo Coutinho 

Cineasta Eduardo Coutinho 
Uma vida dedicada aos documentários


Investigativo e experimental

Na década de 1970, Coutinho assinou roteiros de ficções como 'Dona Flor e seus dois maridos' (1976), de Bruno Barreto, ao mesmo tempo em que mantinha em exercício a veia documentarista através do programa Globo repórter' (TV Globo), onde assinou produções ousadas de jornalismo investigativo por duas décadas. Após dirigir a comédia 'O homem que comprou o mundo' (1968) e o drama 'Faustão' (1970), baseado na obra de Shakespeare, o cineasta passou a dedicar-se quase exclusivamente ao relato de histórias reais.

Relato e popularidade

Em 45 anos de atividade, Eduardo Coutinho assinou produções que são referência do gênero no Brasil, como 'O fio da memória' (1991), 'Boca de lixo' (1993) e 'Os romeiros de Padre Cícero' (1994). A explosão de popularidade viria com o lançamento de três filmes que venceram a resistência do público geral em relação a documentários. 'Santo forte' (1999), que lida com o ecletismo religioso em bairros e comunidades de periferia, levou mais de 18 mil espectadores aos cinemas. O longa foi seguido de 'Babilônia 2000' (2000), um olhar sobre os preparativos de moradores para a festa de ano-novo em um morro do Rio de Janeiro, assistido por cerca de 15 mil pessoas.

O interesse despertado por ambos resultou na procura significativa por 'Edifício Master' (2002), que reúne entrevistas com moradores de um condomínio residencial em Copacabana. Marcado pelo contraste de comportamentos e personalidades que dividem um espaço comum, o longa teve bilheteria em mais de 86 mil espectadores. Vencedor do Kikito de Ouro de Melhor Documentário no Festival de Gramado, o filme aproximou a obra de Coutinho do reconhecimento pela classe-média, que se via refletida na fala de seus personagens.

Reflexão da linguagem

Explorador de caminhos inusitados em cenários comuns, o diretor se aprofundou na reflexão sobre a dualidade do documentário em trabalhos mais recentes. 'Jogo de cena' (2007), coloca atores famosos como protagonistas de relatos oferecidos por pessoas desconhecidas.

'Moscou' (2009), seu penúltimo filme, acompanha a preparação de atores nos bastidores de uma peça de Tchekhov. Com linguagem próxima ao improviso, a obra é marcada pela busca de Coutinho pela isenção de intervenção. "Creio que a principal virtude de um documentarista é a de estar aberto ao outro, a ponto de passar a impressão, aliás verdadeira, de que o interlocutor, em última análise, sempre tem razão. Ou suas razões", escreveu o diretor em 1992 para o catálogo do Festival Cinéma du Réel.

No ano passado, quando completou 80 anos, Eduardo Coutinho foi homenageado pela Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. A obra do artista também foi premiada com um Kikito de Cristal no Festival de Gramado, em 2007.  

Veja os filmes de Eduardo Coutinho, por ordem cronológica:

- "O Pacto" (Episódio do longa "ABC do Amor") (1966)
- "O Homem que comprou o mundo" (1968)
- "Faustão" (1971)
- "Cabra marcado para morrer" (1985)
- "Santa Marta - Duas Semanas no Morro" (1987)
- "Volta Redonda - Memorial da Greve" (1989)
- "O Fio da Memória" (1991)
- "A Lei e a Vida" (1992)
- "Boca de Lixo" (1993)
- "Os Romeiros do Padre Cícero" (1994)
- "Seis Histórias" (1995)
- "Mulheres no Front" (1996)
- "Santo Forte" (1999)
- "Babilônia 2000" (2000)
- "Porrada" (2000)
- "Edifício Master" (2002)
- "Peões" (2004)
- "O Fim e o Princípio" (2005)
- "Jogo de Cena" (2007)
- "Moscou" (2009)
- "Um Dia na Vida" (2010)
- "As Canções" (2011)

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