Páginas

segunda-feira, 2 de junho de 2014

A Cenógrafa, Figurinista e Professora Marie Louise Nery completa 90 anos





Do seu traço fez-se o Carnaval

Há 54 anos no Rio, artista suíça virou figurinista do Carnaval e foi a 1ª mulher a trabalhar em escola de samba, onde fez desfiles para o Salgueiro 
Rafael Andrade/Folhapress
Marie Louise Nery, no ateliê de sua casa, em Copacabana, no Rio 

DO RIO



A primeira lembrança que vem à mente da suíça Marie Louise Nery, 86, quando se pergunta sobre sua chegada ao Rio, em 1957, são os golfinhos que viu saltando na baía de Guanabara.
A segunda lembrança é a do carnaval de 1958, quando viu as escolas de samba que na época desfilavam na Avenida Rio Branco, diante de foliões que se acotovelavam nas calçadas.
"Fiquei fascinada. Naquela época ninguém queria sair pelado ou vestido de índio ou escravo. Todos queriam ser destaques, por causa das roupas luxuosas. Joãozinho Trinta diz que pobre gosta de luxo. Quem gosta de simplicidade são os intelectuais."
Artista plástica e figurinista, Marie Louise veio parar no Brasil por amor. Percorria uma exposição no museu etnográfico de Neuchatel, na Suíça, quando bateu os olhos em um brasileiro que montava uma exposição. Era o aderecista pernambucano Dirceu da Câmara Nery.
"Em pouco tempo estávamos casados. Larguei tudo e vim para o Rio com ele", diz.
Amigo de vários jovens artistas, Nery percebeu o fascínio da mulher com os desfiles de Carnaval e a convenceu a "fazer uns riscos" para um deles, Fernando Pamplona, que começava uma carreira vitoriosa -e que revolucionou os desfiles de escola de samba- no Salgueiro.
Marie Louise empolgou-se e começou a criar fantasias ao lado do marido. "Algum tempo depois soube que fui a primeira mulher a trabalhar para uma escola de samba. Na época não prestava muita atenção nisso. Queria criar".
No ano seguinte, a convite de Pamplona, Marie Louise e Nery estavam no grupo que desenvolveu o enredo "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", a respeito da vinda da missão artística francesa ao Brasil, em 1816, e do legado deixado aqui pelo pintor Jean Baptiste Debret. A escola não levou o título -perdeu para a Portela- mas o desfile ficou na memória.
Desistiu do carnaval após a morte repentina do marido, aos 47 anos, em 1967. Continuar sem o parceiro, avaliou, não fazia sentido.
Diversificou. Fez figurinos para teatro e cinema e tornou-se professora da Escola de Belas Artes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da Escola de Teatro da Unirio (Universidade Federal do Estado do RJ). Dos tempos na Suíça lembra da família puritana, que não admitia uma artista na família.
Apesar de alguns problemas motores, resultado de uma cirurgia nos anos 90, Marie Louise ainda desenha com frequência. 
Para ela, a diferença dos tempos em que começou a criar para escolas de samba para os Carnavais de hoje é uma só: "Agora é show, com muitos brancos. Na minha época era uma festa popular, dos negros da comunidade".

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1402201119.htm

------------------------------------------------------------------------------

Marie Louise nasceu em Berna, na Suíça, no dia 31 de maio de 1924. Estudou na Escola Técnica de Ofícios (Gewerbeschule) e na Escola de Artes Utilitárias (Kunstgewerbeschule). Casou-se com Dirceu da Câmara Nery, cenógrafo e aderecista pernambucano, com quem formou uma dupla de reconhecido talento.
Em junho de 1957 veio para o Brasil, e logo começou a participar ativamente da vida artística e cultural do Rio de Janeiro. Em 1959, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro deu início a uma das primeiras revoluções estéticas do carnaval carioca, ao convidar o casal para criar o enredo sobre Jean Baptiste Debret, pintor e desenhista francês, membro da Missão Artística Francesa que chegou ao Brasil em 1816. O resultado foi um belo desfile que surpreendeu todos que o assistiram. Marie Louise também confeccionou figurinos carnavalescos para a escola de samba Portela.
Ao lado de Dirceu, criou cenários, figurinos e adereços para peças infantis de autoria de Maria Clara Machado, encenadas pelo grupo amador O Tablado: O Cavalinho Azul (1960/1966), A Menina e o Vento (1963) e A Volta do Camaleão Alface (1965), entre outras. O Tablado tornou-se uma referência e uma espécie de cartão de visitas do casal, enfim, um trampolim para o teatro profissional.
O Teatro da Praça, o Teatro do Rio e o Teatro dos Sete foram alguns dos grupos e das companhias contempladas com a imaginação e a criatividade da artista plástica. Seus figurinos agradaram aos críticos que, em 1964, assistiram a Mirandolina, de Carlo Goldoni, produção do Teatro dos Sete, com direção e cenários de Gianni Ratto e elenco constituído por Fernanda Montenegro, Sérgio Britto, Ítalo Rossi e Yolanda Cardoso. “As roupas de Marie Louise Nery pareceram-nos não só bonitas como adequadas, ilustrando as características das personagens que as vestem, como o escuro e surrado traje do Marquês, as cores vistosas do rico Conde, o negro do soturno Cavaleiro e o claro vestido de Mirandolina, particularmente feliz”, ressaltou Henrique Oscar, em artigo publicado no Diário de Notícias, em 28 de outubro de 1964.
Como figurinista, aderecista e cenógrafa assinou diversos espetáculos de teatro, ópera e balé, entre os quais destacam-se Todomundo, Moralidade Inglesa, de autor anônimo, direção de Bárbara Heliodora (1959); Os Ciúmes de um Pedestre ou O Terrível Capitão do Mato, de Martins Pena, e O Velho Ciumento, de Miguel de Cervantes, tradução livre de Millôr Fernandes, ambos dirigidos por Gianni Ratto (1961); a ópera Il Dibuk, de Lodovico Rocca, também sob a direção de Gianni Ratto (1962); Chiquinha Gonzaga, de Elza Osborne e Carlos Paiva, direção de Pernambuco de Oliveira (1974); Meu Reino por um Cavalo, de Dias Gomes, direção de Antonio Mercado (1989); e O Sorriso ao Pé da Escada, de Henry Miller, adaptação de Sidney Cruz e direção de Mônica Alvarenga (1996).

Professora e Sítio do Pica-Pau Amarelo

Em 1964, ingressou como professora no Conservatório Nacional de Teatro, atual Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), onde lecionou Artes Plásticas e Indumentária. Ministrou aulas de adereços e indumentária, em 1978, no Curso de Especialização em Direção Teatral da Universidade Federal da Paraíba (UFBP). Foi professora-assistente da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
No cinema, realizou figurinos para os filmes Os Selvagens (1964), de Franz Eichhorn e Eugenio Martín; As Duas Faces da Moeda, de Domingos de Oliveira (1969); e Le Grabuge, direção de Édouard Luntz (1968). Fez os cenários de A Dança das Bruxas, de Francisco Dreux (1970). No filme Edu, Coração de Ouro (1968), de Domingos de Oliveira, aparece em uma das cenas.
Produziu aproximadamente 150 bonecos para o projeto do programa Sítio do Pica-Pau Amarelo(1977-1986), coprodução da TV Educativa e da TV Globo. Em 1962 e 1963, participou de exposições no Museu de Arte Moderna de Belo Horizonte com trabalhos de pintura e tapeçaria e, no ano de 1994, apresentou máscaras afro-brasileiras no Galpão das Artes do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Ilustrou livros infantis de autores como Maria Clara Machado, Vinicius de Moraes, Lygia Bojunga Nunes, Manuel Bandeira e Cecília Meireles.
Recebeu prêmios, como melhor figurinista, do Círculo Independente de Críticos Teatrais (CICT), em 1961 e 1964, da Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT), em 1961 e da VII Bienal de Teatro em São Paulo (1963). Conquistou ainda os Prêmios Saci (1962) e Molière (1964). No Carnaval de 2003, o Salgueiro trouxe para a avenida seus 50 anos de história e Marie Louise Nery, uma das personalidades homenageadas, desfilou em carro alegórico. No mesmo ano publicou, pela editora Senac A Evolução da Indumentária: Subsídios para Criação de Figurino, importante livro de referência para pesquisadores e estudantes de Teatro.
Os desenhos dos figurinos criados por Marie Louise Nery, ao longo de sua trajetória como prestigiada profissional, integram parte do acervo do Projeto Brasil Memória das Artes. São documentos que ilustram um importante período do Teatro Brasileiro e que podem ser apreciados nesta exclusiva galeria.

Fonte: http://www.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/cenario-e-figurino/biografia-de-marie-louise-nery/
-----------------------------------------------------------------------------

Marie Louise Nery - Uma vida dedicada à arte brasileira

Leila Bastos Sette

Resumo


O presente trabalho refere-se a um capítulo dedicado à biografia da renomada artista
plástica, cenógrafa e figurinista Marie Louise Nery e faz parte do projeto de pesquisa intitulado:
"O sentido e a linguagem do figurino teatral, na obra de Marie Louise Nery", o qual pretende dar
continuidade ao estudo do figurino teatral iniciado no Mestrado e se propõe a refletir sobre a
linguagem e o sentido do traje de cena, construído para diferentes tipos de espetáculos, tendo
como principal objeto de estudo os figurinos criados pela artista. Marie Louise nasceu em Berna,
Suiça, em 1924 e na sua terra natal freqüentou as escolas de Gewerbeschule e de
Kewstgwerbeschule. Encantada com a nossa cultura e arte, em 1957 veio para o Brasil e se casou
com o cenógrafo Dirceu Nery, realizando juntos importantes trabalhos para a cena espetacular
brasileira. Professora aposentada de Artes Plásticas e de Indumentária, da Escola de Teatro, no
Centro de Letras e Artes – CLA, da UNIRIO e da Escola de Belas Artes – EBA, da UFRJ,
formou uma geração de grandes artistas. Atualmente, Marie Louise vive no bairro de
Copacabana, no Rio de Janeiro, onde fixou residência desde que chegou no Brasil.

Texto Completo: PDF
------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Evolução Da Indumentaria, a

Capa
Senac, 2003 - 303 páginas
Neste livro, a artista plástica, figurinista e professora Marie Louise Nery apresenta os principais traços da evolução dos costumes, desde a pré-história até o fim do século XX, com informações sobre as roupas da época e sua relação com o contexto em que eram produzidas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário