- Ele era o segundo filho do industrial Moritz Zweig (1845-1926),
originário da Boêmia, e de Ida Brettauer (1854-1938), oriunda de uma família de
banqueiros. Seu avô materno, Joseph Brettauer viveu em Ancona, Itália, onde sua
segunda filha Ida nasceu e cresceu. Seu irmão mais velho, Alfred, foi educado
desde sempre para ser o sucessor do pai em seus negócios, e ambos tiveram uma
infância e uma educação privilegiadas, graças à boa situação financeira de seus
familiares.
- Estudou Filosofia na Universidade de Viena, e em 1904 obteve seu
doutorado com uma tese sobre "A Filosofia de Hippolyte Taine". A
religião jamais desempenhou papel central na sua formação: "Minha mãe e
meu pai eram judeus apenas por acidente de nascimento", declarou Zweig em
uma entrevista. No entanto, ele nunca renegou o judaísmo e escreveu várias
vezes sobre temas e personalidades judaicos, como em "Buchmendel".
Sua primeira coletânea de poemas, Silberne Saiten ("Cordas de
Prata"), foi publicada em 1902.
- Apaixonado pelas literaturas inglesa e francesa, o escritor traduziu
para o alemão obras de Keats, Morris, Yeats, Verlaine e Baudelaire. Seu círculo
de amizades incluía Rimbaud, Romain Rolland, Rainer Maria Rilke, Thomas Mann e
Sigmund Freud, com o qual se correspondeu entre 1908 e 1939.
- Seu sucesso como autor dramático foi confirmado em 1912, quando suas
peças "A Metamorfose da Comédia" e "A Mansão à Beira-mar"
foram apresentadas em Viena. Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915, casou
com a escritora Friderike von Winsternitz e comprou uma casa em Salzburgo, onde
viveu por quinze anos. Foi uma das fases mais ricas de sua produção literária.
Escreveu as biografias de Dostoievski, Dickens, Balzac, Nietzsche, Tolstoi e
Stendhal. Anos mais tarde, lançou as biografias de Maria Antonieta, Fouché,
Rilke e Romain Rolland.
- Conseguiu o reconhecimento como narrador poeta e ensaísta durante os
anos de 1920 e 1930. Desse período, destacam-se os romances "Amok"
(1922), "Angústia" (1925) e "Confusão de Sentimentos"
(1927), baseados na psicanálise.
"Amok" (1922) |
No início da Primeira Guerra Mundial, o sentimento patriótico se
disseminou com força entre os cidadãos da Alemanha e da Áustria, assim como
entre suas populações judaicas. Zweig, bem como outros intelectuais judeus como
Martin Buber e Hermann Cohen, aderiram à causa germânica. No entanto, ele
jamais se alistou nas forças combatentes e trabalhou no arquivo do Ministério
da Guerra. Porém, com o desenrolar do conflito e o banho de sangue subsequente,
Zweig se tornou pacifista, assim como seu amigo Romain Rolland. Até o final da
guerra e pelos anos seguintes, Zweig se manteve fiel ao pensamento pacifista,
defendendo a unificação da Europa como solução para os problemas do continente.
- Separou-se de sua primeira esposa, Friderike von Winsternitz, e
uniu-se com sua secretária, Charlotte Elizabeth Altmann (mais conhecida como
"Lotte"). Em 1932, Adolf Hitler chegou ao poder na Alemanha e
instalou a ditadura nazista. Com suas políticas antissemitas se disseminando
até além das fronteiras, não demoraria em Zweig se sentir afetado na Áustria.
Em 1934 deixou o país e passou a viver na Inglaterra, entre Londres e Bath,
onde se naturalizou cidadão britânico.
- Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e o avanço das tropas de
Hitler pela França e em toda a Europa Ocidental, o casal atravessou o Oceano
Atlântico em 1940 e se estabeleceu inicialmente nos Estados Unidos, em Nova
York. Em 22 de agosto do mesmo ano, fez sua primeira viagem para o Brasil.
- Zweig e Lotte empreenderam três viagens ao Brasil. Na primeira, entre
1940 e 1941, para uma série de palestras pelo país, escreveu da Bahia para
Manfred e Hannah Altmann, seus cunhados: "Você não pode imaginar o que
significa ver este país que ainda não foi estragado por turistas e tão
interessante - hoje estive nas cabanas dos pobres que vivem aqui com
praticamente nada (as bananas e mandiocas estão crescendo em volta) e as
crianças se desenvolvem como se estivessem no Paraíso -, a casa inteira, desde
o chão, lhes custou seis dólares e, por isso, são proprietários para sempre. É
uma boa lição ver como se pode viver simplesmente e, comparativamente, feliz -
uma lição para todos nós que perdemos tudo e não somos felizes o bastante
agora, ao pensar como viver então”.
Zweig com sua esposa "Lotte". |
- Foi nesta primeira viagem que Zweig, com a ajuda de Lotte, reuniu suas
anotações pessoais e finalizou o ensaio "BRASIL, PAÍS DO FUTURO"... A
alcunha de "País do Futuro", criada por Zweig, se tornaria um apelido
para o Brasil. De fato, apesar da depressão que já sentia por conta do
desenrolar da guerra na Europa, o escritor tentava encontrar no Brasil as
condições não apenas de recriar sua vida particular, mas também da antiga
atmosfera de seu continente natal. Segundo Alberto Dines, autor de uma
biografia do escritor, Zweig seria um dos últimos remanescentes da cultura e do
modo de vida europeus do século 19. Seu desânimo com o avanço do
Nacional-Socialismo, na verdade, viria de muito tempo antes, desde a Primeira
Guerra Mundial, quando os primeiros sinais de rompimento com a velha ordem
imperial europeia se mostraram.·.
- Zweig foi recebido com entusiasmo tanto pela comunidade intelectual
local quanto pelas autoridades políticas. Para os intelectuais brasileiros, a
presença de tão renomado escritor em terras nacionais trazia prestígio e
oportunidades de um intercâmbio com outros escritores estrangeiros. Mas para as
autoridades políticas, a chegada de Zweig, com sua bagagem liberal e
antinazista, era contraditória. O governo de Getúlio Vargas se mantinha no
poder graças às políticas francamente autoritárias e muitos de seus ministros e
assessores militares eram francamente simpatizantes do nazifascismo. Isso não
impediu que os elementos menos autoritários do estado brasileiro usassem Stefan
Zweig para atingirem seus objetivos.
“Considerando
que o nosso velho mundo é, mais do que nunca, governado pela tentativa insana
de criar pessoas racialmente puras, como cavalos e cães de corrida, ao longo
dos séculos a nação brasileira tem sido construída sobre o princípio de uma
miscigenação livre e não filtrada, a equalização completa do preto e branco,
marrom e amarelo”.
Zweig com sua esposa Charlotte Elizabeth Altmann (mais conhecida como "Lotte"). |
- A partir da terceira viagem ao Brasil, Lotte e Zweig se estabeleceram
em Petrópolis, cidade na serra do Rio de Janeiro, onde finalizou sua
autobiografia, "O Mundo que Eu Vi"; escreveu a novela "O Jogador
de Xadrez" e deu início à obra "O Mundo de Ontem", um trabalho
autobiográfico com uma descrição da Europa de antes de 1914.
Em 1942, deprimido com o crescimento da
intolerância e do autoritarismo na Europa e sem esperanças no futuro da
humanidade, Zweig escreveu uma carta de despedida e suicidou-se com a mulher,
Lotte, com uma dose fatal de barbitúricos, na cidade de Petrópolis, no Brasil.
A notícia chocou tanto os brasileiros quanto seus admiradores de todo mundo. O
casal foi sepultado no Cemitério Municipal de Petrópolis, de acordo com as
tradições fúnebres judaicas, no perpétuo 47.417, quadra 119.
A casa onde o casal cometeu suicídio é, hoje, um centro cultural
dedicado à vida e à obra de Stefan Zweig.·.
- A carta de suicida, declaração: “Antes de deixar a vida por vontade
própria e livre, com minha mente lúcida, imponho-me última obrigação; dar um
carinhoso agradecimento a este maravilhoso país que é o Brasil, que me
propiciou, a mim e a meu trabalho, tão gentil e hospitaleira guarida”. A cada
dia aprendi a amar este país mais e mais e em parte alguma poderia eu
reconstruir minha vida, agora que o mundo de minha língua está perdido e o meu
lar espiritual, a Europa, autodestruído. Depois de 60 anos são necessárias
forças incomuns para começar tudo de novo. Aquelas que possuo foram exauridas
nestes longos anos de desamparadas peregrinações. Assim, em boa hora e conduta
ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais
pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a Terra. Saúdo todos
os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite.
Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes.
Lotte esperou para certificar-se que Zweig já não respirava e depois se deitou a seu lado, abraçando-o. |
A casa onde o casal, Stefan Zweig e Lotte, cometeram suicídio, hoje, um centro cultural dedicado à vida e à obra de Stefan Zweig. |
Uma grande perda!
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