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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Entrevista de Domingos Oliveira sobre o fechamento dos teatros no Rio.


Resumo aqui minhas conclusões sobre o desagradável incidente do fechamento dos teatros. A comoção causada por Santa Maria foi enorme e justa, a única real tragédia da vida é morrer jovem. Diante disso, é natural excessos nos comportamentos. Tudo podia ter sido resolvido sem fechamento dos teatros, a segurança garantida, por exemplo, por medidas emergenciais etc. Simplesmente não se fecha teatros. Não vi isso nos meus 50 anos de profissão, nem ouvi falar. Não se fecha teatros. Os teatros foram fechados em 1593 por causa da peste bubônica na Europa. Em 1642, na Inglaterra, por pressão dos Puritanos. E também na Idade Média no sexto século pelo Imperador Justiniano por considerar que Teatro era coisa do demônio. Durante a Segunda Guerra, as peças foram censuradas mas não se fechou os teatros. Porque os teatros são lugares sagrados, últimos redutos da consciência crítica da sociedade. Não devemos ser confundidos de modo algum com restaurantes ou casas de diversão, por mais respeitáveis. O incidente carioca, tenho certeza que passageiro, (eu estava em cena com minha peça “Clímax” que, por falar nisso, ia indo bem) serve como expressão de certo desconhecimento por parte da administração da função social da Arte ela mesma, no caso teatral. Esse desconhecimento tem se refletido em toda política atual do Teatro. Que tem, com exceções, é claro, dado primazia à construção e à reforma de espaços sem a preocupação do que vai acontecer dentro deles. A verba pública deve ser utilizada sempre na infraestrutura das atividades e não nas suas emanações aparentes.

Porém estamos longe disso e decorrerá um tempo da concretização sob forma política de apoios que efetivamente desenvolvam a Arte do Teatro.
Portanto, penso que o surpreendente fechamento temporário dos teatros do Rio pode trazer vantagem. Colocar em primeiro plano a inadequação e pobre estratégia das políticas existentes. Fenômeno baseado, permitam a repetição, numa subestimação da importância da Arte. Na verdade, pessoalmente fiquei muito deprimido com a ocorrência.

Domingos Oliveira
06/02/2013

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