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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Morre o Ator e Diretor Antônio Abujamra

O Abujamra é mais uma enorme perda para o teatro. A primeira peça adulta que assisti e que me motivou a fazer teatro era com direção dele. Estava numa época de crise, sem saber que caminho tomar. Tinha 17 anos e quando vi Nicete Bruno em cena fiquei estupefato. Ela era um arraso! Sai do teatro, depois de ficar sentado ali olhando o palco por um tempo vazio e sem toda aquela vida que havia experimentado minutos antes, tendo plena certeza do que queria. Muitos anos depois o conhecendo, contei essa história. E ele, sarcástico e inteligente como era, lamentou a merda que tinha feito. rsrsrs


A essência do meu progresso estava em poder aceitar a minha decadência. Ou seja, progredir até morrer, porque viver é morrer. E não me arrependo de nada"
Antônio Abujamra


Nascido em Ourinhos, em 15 de setembro de 1932, Antônio Abujamra foi um dos primeiros a introduzir os métodos teatrais de Bertolt Brecht e Roger Planchon em palcos brasileiros.

Formou-se em filosofia e jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, em 1957. Inicia-se como crítico teatral e faz suas primeiras incursões como ator e diretor no Teatro Universitário, entre 1955 e 1958, nas montagens de “O Marinheiro”, de Fernando Pessoa; “À Margem da Vida” e “O Caso das Petúnias”, de Tennessee Williams; “A Cantora Careca” e “A Lição”, de Eugène Ionesco; e “Woyzeck”, de Georg Büchner.

Abujamra estreia profissionalmente em 1961, em São Paulo, no Teatro Cacilda Becker, onde dirige “Raízes”, de Arnold Wesker, e no Teatro Oficina, com “José, do Parto à Sepultura”, de Augusto Boal. “Antígone América”, de Carlos Henrique Escobar, 1962, é a primeira de uma série de montagens que dirige para a produtora Ruth Escobar.
Em 1963, associa-se a Antônio Ghigonetto e Emílio Di Biasi e funda o Grupo Decisão, com a intenção de disseminar o teatro político com base na técnica brechtiana. A primeira produção é “Sorocaba, Senhor”, uma adaptação de “Fuenteovejuna”, de Lope de Vega.
Em 1965, Abujamra dirige, no Rio de Janeiro, a montagem de “O Berço do Herói”, de Dias Gomes. A peça foi interditada pela censura no dia do ensaio geral. Nos anos seguintes, dedica-se ao Teatro Livre, companhia de Nicette Bruno e Paulo Goulart realizando montagens ambiciosas, como “Os Últimos”, de Máximo Gorki.
Em 1975, dirige Antônio Fagundes no monólogo “Muro de Arrimo”, de Carlos Queiroz Telles, paradoxo entre as duras condições de vida de um operário da construção civil e suas ilusórias expectativas de um futuro brilhante, e recebe o Prêmio Molière, pela direção de “Roda Cor de Roda”, de Leilah Assumpção.
Na primeira metade dos anos 1980, Abujamra se engaja em recuperar o Teatro Brasileiro de Comédia. Entre seus espetáculos mais significativos no TBC estão “Os Órfãos de Jânio”, de Millôr Fernandes, 1981; “Hamletto”, de Giovanni Testori, 1981; “Morte Acidental de um Anarquista”, de Dario Fo, 1982; e “A Serpente”, de Nelson Rodrigues, 1984. Em 1987, encerrado o projeto do TBC, Abujamra dirige, para a Companhia Estável de Repertório, de Antonio Fagundes, a superprodução “Nostradamus”, de Doc Comparato, grande êxito de bilheteria.
Aos 55 anos, Abujamra inicia sua carreira de ator. Em dois anos, atua em duas telenovelas e três peças e é premiado pelo desempenho no monólogo “O Contrabaixo”, de Patrick Suskind, 1987. Em 1991, recebe o Prêmio Molière pela direção de “Um Certo Hamlet”, espetáculo de estreia da companhia Os Fodidos Privilegiados, fundada por Abujamra para ocupar o Teatro Dulcina, no Rio.

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O ator e diretor de teatro Antônio Abujamra, 82 anos,  morreu na manhã desta terça-feira (28), em São Paulo. A causa da morte foi um infarto no micárdio, segundo o SPTV. Ele deixa dois filhos e dois netos.

sábado, 25 de abril de 2015

Manifesto em defesa da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna pelo seu Grêmio Estudantil


Foto por Rebecca Leão
"O Grêmio Estudantil da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna, vem, por meio deste manifesto, exigir que sejam tomadas providências contra o seu abandono, e convocar à luta todos os seus filhos e filhas, amigos e amigas.
A nossa escola, fundada em 13 de janeiro de 1908, é considerada a mais antiga escola de teatro em atividade da América Latina. Hoje, estudantes de todo o Brasil se reúnem nessa escola para compartilhar a realização de um sonho: aprender teatro em uma instituição conceituada e gratuita. No decorrer destes 107 anos de história, a Martins Penna enfrentou inúmeros obstáculos, persistindo em sua postura democrática. A história da Martins Penna foi costurada por atos de resistência, momentos em que a vontade de seus professores e alunos foram vitoriosos perante as consequencias do descaso estatal.
Mais uma vez, a Martins enfrenta a possibilidade de paralização. O progressivo sucateamento proporcionado por anos de abandono recebeu um golpe decisivo no atual contexto de crise em que se encontra a educação pública do Rio de Janeiro. No iníco do semestre atual, a Martins Penna se despediu de 5 professores e 4 funcionários. Algumas disciplinas estão interrompidas desde então, mas nos reunimos em uma assembléia de professores, funcionários e estudantes, optando por manter a escola em funcionamento apesar disso. No dia 28 de maio, entretanto, perderemos mais 15 professores e 9 funcionários, o que causará um desfalque irremediável, e a consequente paralização das aulas.
Estamos também sem telefone e internet, a escola está incomunicável, e não há recebimento de verba a contar de outubro do ano passado. Nossas estruturas são antigas e necessitam reformas para garantir o mínimo que é a segurança dos funcionários, professores e estudantes que utilizam esses espaços todos os dias. O orçamento da escola é absurdamente ineficiente para o atendimento das necessidades mais básicas, o que dirá para aperfeiçoamentos. A nossa escola de teatro está parada no tempo.
Diante dessa realidade, o Grêmio Estudantil Renato Viana convoca a todos e todas para pensar e fazer junto ao movimento‪#‎MARTINSSEMPENA‬. Convidamos a sociedade civil, mídias e as autoridades para visitar a escola no dia 30 de abril, a partir das 17 horas, quando teremos o Ato Artístico Martins Resiste, e uma grande roda de conversas para ecoar os nossos anseios e dificuldades, para então encontrarmos juntos as soluções.
A Martins não pode parar!"

Para curtir a página vá até: https://www.facebook.com/pages/Martins-Sem-Pena/1117698901589984

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Os alunos da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna (RJ) convidam para o ATO ARTÍSTICO que visa expor as dificuldades e as deficiências pelas quais a instituição vem passando.



IMPORTANTE!!!

"Os alunos da Escola Técnica de Teatro Martins Pena convidam a imprensa e representantes do legislativo do estado para comparecer à unidade no dia 30 de abril, às 17:30h, onde acontecerá um ATO ARTÍSTICO que visa expor as dificuldades e as deficiências técnicas pelas quais a instituição vem passando.

Desde o começo do semestre não contamos com o quadro completo de professores e funcionários, estamos sem telefone e internet, e não há recebimento de verba a contar de OUTUBRO do ano passado.

A Martins Pena é uma escola centenária ( 107 anos) e atravessou inúmeras crises ao longo de sua existência. É a escola de teatro mais antiga da América Latina e a única que proporciona atualmente uma formação profissional de ator gratuita no estado do Rio de Janeiro.

A importância da Escola se confunde com a história das artes dramáticas no país. A instituição é patrimônio do teatro brasileiro e, mesmo assim, hoje se mantém com uma estrutura precária e um corpo docente desfalcado.

O ATO ARTÍSTICO do dia 30/04 juntamente ao movimento‪#‎MartinsSemPena‬ tem como objetivo expor as condições deficientes com as quais a escola é obrigada conviver.

Se hoje ainda continuamos de portas abertas, é pelo amor incondicional e diligente de funcionários, professores, alunos e ex-alunos, que lutam pela sobrevivência da instituição."

domingo, 19 de abril de 2015

Adeus a Judith Malina

15 de abril de 2015

Malina e Beck: presos e expulsos pela ditadura.


Por Carlos Ávila

A morte recente da atriz Judith Malina, aos 88 anos, quase passou despercebida pela mídia brasileira. Uma das fundadoras do Living Theater, ao lado de seu companheiro Julian Beck (1925/1985), Malina manteve-se ativa por toda a vida, no teatro e no cinema, desde o final da década de 1940 até os anos 2000. O Living – que foi criado em Nova York, em 1947 – era um grupo de vanguarda, experimental e radical, que propunha um teatro político e participativo (Paradise Now foi seu espetáculo mais famoso).
Mas por que nos toca de perto a morte de Malina? Particularmente, pela atuação do Living em Minas, que se radicou por um breve período em Ouro Preto. O grupo veio para o Brasil em 1970, a convite do Oficina de José Celso; naquele momento, Marina & Beck eram nomes importantes na cena cultural – ao lado de gente como John Cage, Merce Cunningham, Nam June Paik, Yoko Ono e outros ligados ao movimento de arte multimídia Fluxus.
A vinda do Living para o Brasil deu-se num momento tumultuado, em plena ditadura militar (governo do general Médici). A repressão e a censura estavam por toda parte. Depois de passagens pelo Rio e por São Paulo, o grupo se dirigiu para Ouro Preto na tentativa de criar uma base de atuação ali, fazendo “teatro de rua” e envolvendo a população da cidade nas suas performances.
Era a época dos Festivais de Inverno promovidos pela UFMG – com cursos livres e atividades culturais diversas – uma espécie de “válvula de escape” no sufoco ditatorial. Para Ouro Preto seguia toda uma juventude embalada pela contracultura, a vida alternativa, as drogas e a liberdade sexual. Em geral, os espetáculos apresentados eram inovadores e experimentais (Smetak, por ex., com seus instrumentos inventados, dentro da Igreja de São Francisco de Assis). Os jovens curtiam; a população local ficava chocada e as autoridades militares sentiam-se provocadas.
Ora, num clima assim, imaginem como foi visto na cidade histórica o anárquico e libertário Living – seus integrantes com roupas exóticas e cabelos grandes. O grupo chegou a realizar algumas experiências teatrais com a população (incluindo crianças e adolescentes, num grupo escolar em Saramenha), mas acabou preso pelos militares, no DOPS, de BH, acusado de subversão e porte de drogas (maconha). OLiving viu a repressão e a tortura de perto.
A prisão de Malina, Beck e todo o grupo – formado por atores de várias nacionalidades – repercutiu internacionalmente. Um abaixo-assinado, condenando a repressão no Brasil e pedindo a libertação doLiving, foi publicado pelos jornais daqui e de fora (120 assinaturas: Norman Mailer, Tennessee Williams, Arthur Miller, Andy Warhol, Stanley Kubrick, Allen Ginsberg, John & Yoko, Mick Jagger, Bob Dylan, Marlon Brando, Jack Nicholson, Jane Fonda e muitos outros).
Living foi expulso do país pela ditadura Médici. Durante o tempo em que ficou presa no DOPS Malina escreveu um diário, que termina assim: “Julian está muito nervoso, preparando pronunciamentos para a imprensa. O resto de nós está quieto e triste. Nossos passaportes nos foram devolvidos com um enorme carimbo preto: EXPULSO. Ah, Brasil, não foi em vão que te amei”.



Fonte: http://domtotal.com/blog/carlosavila/?p=614

segunda-feira, 13 de abril de 2015

CRIAR É UM ATO, com Néstor García Canclini

Oi Futuro recebe o antropólogo argentino Néstor García Canclini no primeiro encontro do Ciclo O Ato Criador para  falar sobre o papel do artista na conferência “Criativos, precários, interculturais”

 Néstor García Canclini 

O ciclo O Ato Criador, composto por 12 seminários, abre sua programação com a conferência “Criativos, precários, interculturais”, de Néstor García Canclini, premiado antropólogo argentino radicado no México, pesquisador da pósmodernidade e da cultura latinoamericana. A palestra seguida de debate será no dia 14 de abril, às 19h30, no Oi Futuro no Flamengo, com entrada gratuita.

Em “Criativos, interculturais e precários”, Canclini  pretende chamar a atenção para o reprocessamento destes conceitos nos estudos antropológicos e sociológicos da arte. O antropólogo também vai falar sobre a inovação e originalidade e abordar do papel do artista na atualidade, quando as carreiras são substituídas por projetos.
  
Esta é a 5ª edição de uma série de ciclos realizados desde 2006 no Oi Futuro, patrocinados pela Oi, pelo Governo do Rio de Janeiro, pela Secretaria de Estado de Cultura e pela  Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, sob a curadoria e supervisão da atriz, jornalista e gestora cultural Ana Lúcia Pardo. Essa edição também recebe o apoio do Consulado da França no Rio de Janeiro.Além de Canclini, o ciclo contará com a participação de teóricos, artistas e gestores de diversas áreas do pensamento, da cultura e das artes, numa extensa programação que vai de abril a setembro de 2015.

Mais sobre a programação 2015

Serão 12 encontros com mesas de palestras e debates, além das ExperimentaAções – rodas de conversa e troca de experiências. Uma ocupação estética com cerca de 10 coletivos e grupos artísticos espalhados por espaços da cidade, e uma oficina de fotografia, com Arthur Omar, intitulada “A fotografia com os quatro sentidos”, vão compor a programação do ciclo Ato Criador. O ciclo também foi selecionado pelo Edital de Fomento da Secretaria Municipal de Cultura do Rio e tem como parceria e apoio o Consulado da França no Rio de Janeiro.

“Interessa neste ciclo discutir o fenômeno criativo como potencial transformador de processos, territórios e interrelações com a vida em sociedade, a cultura e a arte no mundo contemporâneo”, explica Ana Lúcia Pardo, curadora do projeto. “Também nos interessam as experiências estéticas e a redistribuição dessa criatividade, assim como as novas subjetividades e conexões”, conclui.

Um pouco da história

O Ato Criador dá continuidade e desdobramento a um processo que se iniciou em 2006 com A Teatralidade do Humano, resultando em livro homônimo, publicado com as Edições Sesc SP, em 2010. Logo depois, em sua segunda edição, o painel teve como tema principal “Subjetividades e Políticas da Cena e do Mundo”. Na 3ª edição, que levou o nome de Ciclo InterAgir – Na rua, na Rede, na Cena Contemporânea, as conferências giraram em torno de novas tecnologias e cultura. Já na 4ª edição, em Espaços de Reencantamento, Afetos e Utopias de um Novo Mundo, os afetos e utopias eram o centro dos debates propostos.

Desta vez, o Ciclo O Ato Criador tem a proposta de refletir e debater sobre a experiência do ato criador e seus múltiplos atores e práticas como potência de transformação.

Bio

Néstor Garcia Canclini é pesquisador emérito do Sistema Nacional de Pesquisadores do México e Doutor em Filosofia nas Universidades de Paris e La Plata. Já lecionou em Austin, Duke, Stanford, Barcelona, Buenos Aires e São Paulo. Acumula os prêmios de Assay Award, da Casa das Américas em reconhecimento pelo livro Las Culturas Populares en el capitalismo; Book Award , concedido pelo Latin American Studies Association para a obra Culturas Híbridas – Estratégias para entrar e sair da modernidade, considerado o livro do ano em 2002 sobre a América Latina. Foi ganhador de uma bolsa de estudos em Guggenheim, e ainda publicou os livros Consumidores e Cidadãos Latino-americanos em busca de um lugar neste século e Diferentes, desiguais e desconectados, entre outros.

SERVIÇO:

CICLO O ATOR CRIADOR, 5ª edição
Dia 14 de abril, terçafeira, às 19h30
Oi Futuro Flamengo
R. Dois de Dezembro, 63 – Flamengo
Entrada gratuita. Retirada de senhas a partir das 18h30.
Sujeito à lotação.
Lotação: 56 lugares

Mais informações:
Gardênia Vargas – gardenia.vargas@gmail.com – 21 980345960

Comunicação Corporativa – Oi
Oi Fixo: (21) 2556-6698
Oi Fixo: (21) 3131-2272 (às segundas e sextas-feiras)
Oi Móvel: (21) 8834-0055

sexta-feira, 10 de abril de 2015

A Cia. franco-brasileira Les Trois Clés oferece uma oficina gratuita com Eros Galvão.

Atenção!!!

A Cia. franco-brasileira Les Trois Clés oferece uma oficina gratuita com Eros Galvão. A oficina visa a seleção de um elenco brasileiro para o "La Gigantea".



20 A 24 DE ABRIL / 13:30H ÀS 17H
27 E 28 DE ABRIL / 13:30H ÀS 17H
ONDE: Casa do Amok ( Rua das Palmeiras, 96, Botafogo, Rio de Janeiro.)

GRATUITO

INSCRIÇÃO: Enviar carta de intenção até dia 18 de abril para: erospgalvao13@gmail.com

PROCESSO DE OFICINA E SELEÇÃO:
A oficina (ministrada por Eros P Galvão) tem como objetivo formar uma equipe brasileira para a remontagem do espetáculo Gigantea do repertório da Cia franco brasileira Compagnie Les Trois Clés, indicada para atores, marionetistas, bailarinos e músicos.
A peça já percorreu vários países e festivais internacionais, e em 2009 a Gigantea obtém o apoio d Anistia Internacional França.


lestroiscles.com





Apoio: Amok Teatro

Um pouco sobre a professora, historiadora, crítica teatral e tradutora Barbara Heliodora


Ela me contagiou com sua paixão por W. Shakespeare.

Lembro-me dela dizendo que a cor preta em Hamlet não era apenas respeito ou luto pela morte de seu pai, mas antes, um ato de protesto!

Aliás, não apenas a paixão pelo Bardo, mas também por um olhar não discriminatório sobre o teatro de feições “singela” e popular ocorrido no Rio de Janeiro entre o último quartel do século XIX e o primeiro do XX. 

Essas, para mim, foram o divisor de águas, não apenas em criar o prazer que tenho por esse teatro, mas  para entender a possibilidade de como existir um Shakespeare para todos.

“Tudo está na Bíblia ou em Shakespeare.” (B.H.)


Vá em paz professora...

...

Na manhã do dia 10 de abril de 2015, no Hospital Samaritano, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde estava internada desde março, faleceu a professora, historiadora, crítica teatral e tradutora Barbara Heliodora.

Os pais de Barbara Heliodora
Barbara Heliodora tinha 91 anos. Carioca, nascida em 29 de agosto de 1923. Dos pais herdou a paixão pelo teatro e pelo futebol. Filha de Marcos Carneiro de Mendonça, historiador e - como sempre gostava de frisar - do “goleiro-galã” do primeiro time do Fluminense e da seleção brasileira, e de Anna Amélia de Queiroz, intelectual, poeta e tradutora. Sua mãe talvez jamais imaginasse que o presente que daria a sua filha, quando esta tinha ainda apenas 12 anos de idade, desenharia o destino de sua vida. Em suas mãos chegavam as edições completas da obra de William Shakespeare, em inglês. E como ao futuro não podemos cobrar dívidas, com o passar dos anos estudou e se formou (nos anos 1940) em literatura inglesa no Connecticut College, nos Estados Unidos. Aos 35 anos, iniciou a carreira no jornalismo, no jornal Tribuna da Imprensa, entre outubro de 1957 e fevereiro de 1958. No ano seguinte já assinava uma coluna especializada em artes cênicas no “Jornal do Brasil”, onde suas rigorosas e bem fundamentadas análises passaram a exercer considerável influência na cena teatral carioca e na modernização da crítica especializada.


Foi no Jornal do Brasil, onde trabalhou até 1964, que sua carreira conquistou respeito e seriedade pelo conhecido rigor dos seus artigos e críticas. Ela era responsável pela resenha de teatro do jornal. A classe teatral brasileira se referia a ela como a "Dama de Ferro". Nos teatros, gostava sempre de sentar nas primeiras fileiras para assistir aos espetáculos. Integrante e uma das líderes do Círculo Independente de Críticos Teatrais, Barbara atuou como crítica até 1964, quando se afastou do “Jornal do Brasil” para assumir a direção do Serviço Nacional de Teatro (SNT), cargo que exerceu até 1967. Daí em diante, dedicou-se integralmente ao ensino. Como professora do Conservatório Nacional de Teatro e também do Centro de Letras e Artes da UNIRIO, lecionou História do Teatro, entre outras disciplinas, até a sua aposentadoria, em 1985. Entretanto, na segunda metade da década de 90 retorna à UNIRIO e ministra aulas no Curso de Mestrado em Teatro.

Barbara voltou ao exercício da crítica teatral em 1986, na revista “Visão”, e logo depois se estabeleceu como a principal crítica teatral do jornal GLOBO, cargo que exerceu ininterruptamente até janeiro de 2014, quando anunciou a sua aposentadoria. 

Mesmo sem a rotina de escrever diariamente sobre teatro, Barbara continuou a fazer traduções e participar de mesas de debates sobre Shakespeare, em reuniões semanais em sua casa, no Largo do Boticário.

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Tradutora de obras teóricas fundamentais da História do Teatro, como “O teatro do absurdo”, “A anatomia do drama” e “Brecht: dos males o menor”, todos de Martin Esslin, além de “Shakespeare”, de Germaine Greer. Um de seus maiores desafios foi a tradução de mais de 30 peças de Shakespeare para o português.

Nos anos 1970, ela deu uma guinada na sua carreira como teórica, tendo seus primeiros livros publicados. O primeiro deles, “Algumas reflexões sobre o teatro brasileiro” (1972). Em 1975, como acadêmica da USP, defendeu a tese de doutorado “A expressão dramática do homem político em Shakespeare”, publicado posteriormente em livro. Em 1997, "Falando de Shakespeare", onde reuniu conferências realizadas ao longo de 15 anos de trabalho. Em 2000, Barbara escreveu "Martins Pena, uma introdução", a convite da Academia Brasileira de Letras. Em 2004, ela  lançou uma coletânea de ensaios: "Reflexões Shakespearianas".  E na companhia de outros quatro autores, lançou em 2005  "Brasil, Palco e Paixão" - Um século de Teatro", sobre uma parte da história do teatro brasileiro no século XX. Em 2013 publicou “A história do teatro no Rio de Janeiro”. Em 2014, teve fôlego para lançar “Shakespeare: o que as peças contam — Tudo o que você precisa saber para descobrir e amar a obra do maior dramaturgo de todos os tempos”. O último livro foi "Caminhos do teatro Ocidental", resumo do trabalho como professora de história do teatro, de 1966 a 1985.
W. Shakespeare

Em uma de suas últimas entrevistas disse que pensava sobre a contribuição do teatro. "O teatro é um documentário perfeito da história do ocidente. Você lendo as peças você vai acompanhar o desenvolvimento do ocidente exatamente. Os autores teatrais acabam refletindo exatamente a história toda".

Ao aprofundar seus estudos sobre Shakespeare, Barbara se tornaria referência internacional sobre o mais importante autor da dramaturgia universal, tendo representado o país em eventos internacionais e publicado ensaios em publicações conceituadas, como o Shakespeare Survey, na Inglaterra. Além claro, de consolidar-se como uma das mais importantes e respeitadas pesquisadoras do teatro brasileiro.


L.L.

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Jornal O Globo


“Uma espécie de tensão silenciosa se instalava quando ela chegava ao teatro, como se anunciasse: Barbara Heliodora, a grande dama da crítica teatral brasileira, chegou. Era fácil distingui-la. Trazia os belos cabelos brancos sempre bem penteados, os óculos generosos bem equilibrados sobre o nariz afilado, a postura ereta. Parecia uma senhora sorridente inglesa, daquelas que observam com prazer e rigor o chá servido em finas xícaras de porcelana. A alusão à Inglaterra não é gratuita. Barbara Heliodora estava entre as maiores especialistas (e tradutoras) na obra do mais celebrado dos autores ingleses, William Shakespeare. O país acaba de perder a inteligência arguta, o humor ferino e a sinceridade dolorosa de Barbara Heliodora, que marcou sucessivas gerações com suas críticas afiadas — publicadas de 1990 a 2014 no Segundo Caderno do GLOBO.

Diretores e atores do teatro carioca sabem bem disso. E, concordando ou não com suas análises, ninguém ficava indiferente ou deixava de dar valor à atenção e ao cuidado da análise da veterana especialista — fosse à qualidade da iluminação ou aos detalhes do cenário. Nos últimos anos, mesmo com idade avançada, e já debilitada pelas sucessivas pneumonias que acabaram por vencê-la, Barbara mantinha uma rotina profissional impressionante, assistindo de quinta a domingo a espetáculos para todos os gostos e de todos os níveis: de iniciantes a consagrados nomes da cena teatral.” (10/03/2015) 



Barbara Heliodora - Shakespeare e o Teatro Elizabetano



Site oficial de Barbara Heliodora
clique na foto!




domingo, 5 de abril de 2015

Salina (A Última Vértebra), por Tânia Brandão


Salina (A Última Vértebra)


clique na foto para ler a excelente crítica feita pela professora, crítica e historiadora tânia brandão sobre o espetáculo "salina (a última vértebra)", PELA CIA. AMOK TEATRO apresentado no sesc COPACABANA entre os meses de fevereiro e março de 2015. 


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AQUI VOCÊ SABE ONDE OCORRERÃO AS PRÓXIMAS APRESENTAÇÕES.