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sábado, 1 de junho de 2013

Sem esperanças no futuro da humanidade, Zweig escreveu uma carta de despedida e suicidou-se com a mulher, Lotte...

STEFAN ZWEIG (Viena, 28 de novembro de 1881 — Petrópolis, 23 de fevereiro de 1942) foi um escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco de origem judaica. A partir da década de 1920 e até sua morte foi um dos escritores mais famosos e vendidos do mundo. Suicidou-se durante seu exílio no Brasil, deprimido com a expansão da barbárie nazista pela Europa, durante a Segunda Guerra Mundial.

- Ele era o segundo filho do industrial Moritz Zweig (1845-1926), originário da Boêmia, e de Ida Brettauer (1854-1938), oriunda de uma família de banqueiros. Seu avô materno, Joseph Brettauer viveu em Ancona, Itália, onde sua segunda filha Ida nasceu e cresceu. Seu irmão mais velho, Alfred, foi educado desde sempre para ser o sucessor do pai em seus negócios, e ambos tiveram uma infância e uma educação privilegiadas, graças à boa situação financeira de seus familiares.

- Estudou Filosofia na Universidade de Viena, e em 1904 obteve seu doutorado com uma tese sobre "A Filosofia de Hippolyte Taine". A religião jamais desempenhou papel central na sua formação: "Minha mãe e meu pai eram judeus apenas por acidente de nascimento", declarou Zweig em uma entrevista. No entanto, ele nunca renegou o judaísmo e escreveu várias vezes sobre temas e personalidades judaicos, como em "Buchmendel".
Sua primeira coletânea de poemas, Silberne Saiten ("Cordas de Prata"), foi publicada em 1902.

- Apaixonado pelas literaturas inglesa e francesa, o escritor traduziu para o alemão obras de Keats, Morris, Yeats, Verlaine e Baudelaire. Seu círculo de amizades incluía Rimbaud, Romain Rolland, Rainer Maria Rilke, Thomas Mann e Sigmund Freud, com o qual se correspondeu entre 1908 e 1939.

- Seu sucesso como autor dramático foi confirmado em 1912, quando suas peças "A Metamorfose da Comédia" e "A Mansão à Beira-mar" foram apresentadas em Viena. Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915, casou com a escritora Friderike von Winsternitz e comprou uma casa em Salzburgo, onde viveu por quinze anos. Foi uma das fases mais ricas de sua produção literária. Escreveu as biografias de Dostoievski, Dickens, Balzac, Nietzsche, Tolstoi e Stendhal. Anos mais tarde, lançou as biografias de Maria Antonieta, Fouché, Rilke e Romain Rolland.

- Conseguiu o reconhecimento como narrador poeta e ensaísta durante os anos de 1920 e 1930. Desse período, destacam-se os romances "Amok" (1922), "Angústia" (1925) e "Confusão de Sentimentos" (1927), baseados na psicanálise.

"Amok" (1922)
No início da Primeira Guerra Mundial, o sentimento patriótico se disseminou com força entre os cidadãos da Alemanha e da Áustria, assim como entre suas populações judaicas. Zweig, bem como outros intelectuais judeus como Martin Buber e Hermann Cohen, aderiram à causa germânica. No entanto, ele jamais se alistou nas forças combatentes e trabalhou no arquivo do Ministério da Guerra. Porém, com o desenrolar do conflito e o banho de sangue subsequente, Zweig se tornou pacifista, assim como seu amigo Romain Rolland. Até o final da guerra e pelos anos seguintes, Zweig se manteve fiel ao pensamento pacifista, defendendo a unificação da Europa como solução para os problemas do continente.

- Separou-se de sua primeira esposa, Friderike von Winsternitz, e uniu-se com sua secretária, Charlotte Elizabeth Altmann (mais conhecida como "Lotte"). Em 1932, Adolf Hitler chegou ao poder na Alemanha e instalou a ditadura nazista. Com suas políticas antissemitas se disseminando até além das fronteiras, não demoraria em Zweig se sentir afetado na Áustria. Em 1934 deixou o país e passou a viver na Inglaterra, entre Londres e Bath, onde se naturalizou cidadão britânico.

- Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e o avanço das tropas de Hitler pela França e em toda a Europa Ocidental, o casal atravessou o Oceano Atlântico em 1940 e se estabeleceu inicialmente nos Estados Unidos, em Nova York. Em 22 de agosto do mesmo ano, fez sua primeira viagem para o Brasil.

- Zweig e Lotte empreenderam três viagens ao Brasil. Na primeira, entre 1940 e 1941, para uma série de palestras pelo país, escreveu da Bahia para Manfred e Hannah Altmann, seus cunhados: "Você não pode imaginar o que significa ver este país que ainda não foi estragado por turistas e tão interessante - hoje estive nas cabanas dos pobres que vivem aqui com praticamente nada (as bananas e mandiocas estão crescendo em volta) e as crianças se desenvolvem como se estivessem no Paraíso -, a casa inteira, desde o chão, lhes custou seis dólares e, por isso, são proprietários para sempre. É uma boa lição ver como se pode viver simplesmente e, comparativamente, feliz - uma lição para todos nós que perdemos tudo e não somos felizes o bastante agora, ao pensar como viver então”.

Zweig com sua esposa "Lotte".

- Foi nesta primeira viagem que Zweig, com a ajuda de Lotte, reuniu suas anotações pessoais e finalizou o ensaio "BRASIL, PAÍS DO FUTURO"... A alcunha de "País do Futuro", criada por Zweig, se tornaria um apelido para o Brasil. De fato, apesar da depressão que já sentia por conta do desenrolar da guerra na Europa, o escritor tentava encontrar no Brasil as condições não apenas de recriar sua vida particular, mas também da antiga atmosfera de seu continente natal. Segundo Alberto Dines, autor de uma biografia do escritor, Zweig seria um dos últimos remanescentes da cultura e do modo de vida europeus do século 19. Seu desânimo com o avanço do Nacional-Socialismo, na verdade, viria de muito tempo antes, desde a Primeira Guerra Mundial, quando os primeiros sinais de rompimento com a velha ordem imperial europeia se mostraram.·.

- Zweig foi recebido com entusiasmo tanto pela comunidade intelectual local quanto pelas autoridades políticas. Para os intelectuais brasileiros, a presença de tão renomado escritor em terras nacionais trazia prestígio e oportunidades de um intercâmbio com outros escritores estrangeiros. Mas para as autoridades políticas, a chegada de Zweig, com sua bagagem liberal e antinazista, era contraditória. O governo de Getúlio Vargas se mantinha no poder graças às políticas francamente autoritárias e muitos de seus ministros e assessores militares eram francamente simpatizantes do nazifascismo. Isso não impediu que os elementos menos autoritários do estado brasileiro usassem Stefan Zweig para atingirem seus objetivos.

“Considerando que o nosso velho mundo é, mais do que nunca, governado pela tentativa insana de criar pessoas racialmente puras, como cavalos e cães de corrida, ao longo dos séculos a nação brasileira tem sido construída sobre o princípio de uma miscigenação livre e não filtrada, a equalização completa do preto e branco, marrom e amarelo”.

Zweig com sua esposa Charlotte Elizabeth Altmann (mais conhecida como "Lotte").

- A partir da terceira viagem ao Brasil, Lotte e Zweig se estabeleceram em Petrópolis, cidade na serra do Rio de Janeiro, onde finalizou sua autobiografia, "O Mundo que Eu Vi"; escreveu a novela "O Jogador de Xadrez" e deu início à obra "O Mundo de Ontem", um trabalho autobiográfico com uma descrição da Europa de antes de 1914.

Em 1942, deprimido com o crescimento da intolerância e do autoritarismo na Europa e sem esperanças no futuro da humanidade, Zweig escreveu uma carta de despedida e suicidou-se com a mulher, Lotte, com uma dose fatal de barbitúricos, na cidade de Petrópolis, no Brasil. A notícia chocou tanto os brasileiros quanto seus admiradores de todo mundo. O casal foi sepultado no Cemitério Municipal de Petrópolis, de acordo com as tradições fúnebres judaicas, no perpétuo 47.417, quadra 119.

A casa onde o casal cometeu suicídio é, hoje, um centro cultural dedicado à vida e à obra de Stefan Zweig.·.

- A carta de suicida, declaração: “Antes de deixar a vida por vontade própria e livre, com minha mente lúcida, imponho-me última obrigação; dar um carinhoso agradecimento a este maravilhoso país que é o Brasil, que me propiciou, a mim e a meu trabalho, tão gentil e hospitaleira guarida”. A cada dia aprendi a amar este país mais e mais e em parte alguma poderia eu reconstruir minha vida, agora que o mundo de minha língua está perdido e o meu lar espiritual, a Europa, autodestruído. Depois de 60 anos são necessárias forças incomuns para começar tudo de novo. Aquelas que possuo foram exauridas nestes longos anos de desamparadas peregrinações. Assim, em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a Terra. Saúdo todos os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite.


Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes.

“Stefan Zweig”

Texto copiado da página do Facebook Rio de Janeiro Memórias&Fotos 

Lotte esperou para certificar-se que Zweig já não respirava e depois se deitou a seu lado, abraçando-o.

A casa onde o casal, Stefan Zweig e Lotte, cometeram suicídio, hoje, um centro cultural dedicado à vida e à obra de Stefan Zweig.

O filme "Lost Zweig" mostra como foi a última semana de vida do escritor judeu austríaco Stefan Zweig, autor do livro "Brasil, País do Futuro", e de sua jovem mulher, Lotte que, num pacto cercado de mistério, se suicidam em Petrópolis após o Carnaval de 1942, ao qual haviam assistido. Um gesto que ainda hoje, mais de sessenta anos depois, desperta incógnitas e assombro pela sua premeditação e caráter emblemático..

Uma das mais tocantes tragédias fomentadas pelo terror nazista no Brasil, nas palavras de Deonísio da Silva. Escritor austríaco, judeu, biógrafo de destaque, humanista, pacifista e crítico do nazifascismo, Stefan Zweig (1881-1942) refugiou-se no Brasil com a esposa, Charlotte Elizabeth Altmann, em 1940. Escreveu Brasil, País do Futuro, livro no qual retratou o nosso país e interpretou o espírito brasileiro, o que rendeu ao Brasil, até hoje, o famoso apelido. Mas Zweig não viveu por muito tempo entre nós. Em 1942, foi encontrado morto ao lado da esposa em seu pequeno bangalô em Petrópolis, fato que até hoje não se esclareceu completamente: suicidaram-se ou "foram suicidados"? Não houve autópsia sob a alegação de não incomodar os mortos. A história social e política da época não deixa dúvidas de que havia razões para um assassinato, mas Zweig deixou uma carta de despedida justificando-se: "Quando alcanço 60 anos de idade, seriam necessários esforços imensos para reconstruir a minha vida, e a minha energia está esgotada pelos longos anos de peregrinação..." Afinal, o que ocorreu naquela noite?

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