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domingo, 25 de agosto de 2013

Boechat: Marta Suplicy é uma peruaça

Ministra, responsável pela pasta da Cultura, aprovou incentivo de R$ 2,8 milhões para desfile de estilista brasileiro em Paris

Marta diz que conselho de incentivo à cultura não captou ideia do desfile / Valter Campanato/ABr/ArquivoMarta diz que conselho de incentivo à cultura não captou ideia do desfileValter Campanato/ABr/Arquivo

O benefício havia sido rejeitado pelo Conselho Nacional de Incentivo à Cultura, mas a ministra decidiu autorizá-lo por entender que se trata de uma vitrine para a indústria têxtil nacional. “Quando eles votam contra alguma coisa que é considerada fora do eixo, estranho, chega a mim. Eu não tive nenhuma dúvida. Eu falo: ‘Mas que pena, eles não conseguiram entender que é uma coisa muito maior’”, disse Marta em entrevista exclusiva à BandNews FM.

Para o âncora, a ministra perdeu a compostura com a decisão. “Eu não consigo entender como que a senhora tem a desfaçatez, o cinismo de dizer o que acabou de dizer. A senhora pegar dinheiro público para botar em um desfile de moda em Paris, ministra. Ministra, a senhora é uma perua. Mas perua com todo aquele clichê que as peruas carregam e têm, merecidamente. A sua atitude é típica de uma peruaça da elite de São Paulo”, comenta o âncora. “Eu não sei onde a senhora está com a cabeça. Talvez seja champanhe demais, restaurante chique demais”. 

Boechat pede mais responsabilidade de Marta quando mexer com verba pública. “Então, o seguinte ministra: tenha, pelo menos, um pouco de compostura quando lidar com o dinheiro dos outros. O seu a senhora torre do jeito que quiser. A senhora sempre foi uma mulher bem sucedida de uma família rica. Mas é o seguinte: o dos outros, ministra? O dos outros... a senhora se dê ao respeito, por favor”.

O âncora ainda questiona a posição de Marta em analisar uma decisão dos conselheiros. “Se um conselho, que existe para isso, disse que não era para gastar dinheiro público, com que autoridade moral a senhora faz um troço desses? R$ 2,8 milhões para um desfile de moda em Paris! A senhora foi lá e disse: ‘Não, o conselho errou porque não captou’. Vai captar lá longe!”, diz Boechat.

O ministério da Cultura também aprovou incentivo fiscal de R$ 2,5 milhões ao estilista Alexandre Herchcovitch para desfiles em São Paulo e Nova York, e de R$ 2 milhões para o mineiro Ronaldo Fraga mostrar as peças dele na São Paulo Fashion Week.

O benefício destinado a estilistas consagrados também seria outro ponto a ser observado, na opinião do âncora. “Que coisa... Se você dissesse ‘um coletivo de criadores de moda’, são cooperativas de costureiras, é uma moda regional... Tudo bem. Eu não estou entendendo. Tem alguma coisa ficando doida porque é o seguinte: tendo sucesso, vão vender roupas populares? Vai comprar um vestido do Herchcovitch aqui na esquina! Vai comprar! Negócio de desfile em Paris, ministra! Dinheiro público! Nunca vi isso. Vou te contar uma coisa: os caras piraram. E mais: vou falar diretamente agora para os estilistas, numa boa. Vocês deram uma de João Sem Braço. Pedir dinheiro público para as paradas de vocês, me desculpem. Vocês deviam ter vergonha na cara”, conclui Boechat.

2 comentários:

  1. E a farra paulistana desatinada segue!!!...........

    http://vejasp.abril.com.br/blogs/terraco-paulistano/2013/05/balada-chique-tem-autorizacao-para-captar-57-milhoes-via-lei-rouanet/

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  2. CARTA DE MARIA RITA KEHL A MARTA SUPLICY, SOBRE A QUESTÃO MODA/CULTURA.

    Prezada Ministra Marta, como vai?

    Escrevo para lhe dizer que concordo com a sua afirmação: moda é cultura. Alta culinária também. No entanto, eu não penso que sejam estas as expressões culturais que precisam dos incentivos do MinC.

    O argumento de que desfiles sofisticados "melhoram a imagem do brasil no exterior", a meu ver, é inconveniente. Esta era uma preocupação dos governos militares: enquanto havia tortura aqui dentro, eles se preocupavam com a imagem do Brasil lá fora. Ora, só o fim da ditadura poderia melhorar nossa imagem frente aos países democráticos.

    Hoje, em plena democracia, a tortura só é praticada nas delegacias da periferia, contra negros e pobres cujas famílias são intimidadas para que as denúncias não cheguem nem à sociedade local, quanto menos à comunidade internacional. Então, oficialmente, vivemos em plena democracia. Mas o que é que "mancha" a imagem do Brasil no exterior? Não é a falta de alta costura/alta cultura. É a permanência da desigualdade, que nem os programas sociais dos governos petistas conseguem debelar de fato, embora tenham sim diminuído significativamente a miséria que excluía milhões de brasileiros dos padrões mínimos de consumo.

    A desigualdade que persiste no Brasil já não é a que impede o povo brasileiro de se alimentar. É a que impede o acesso das classes baixas aos meios de produção.

    Pescadores perdem as condições de pescar - e com isso, sua cultura tradicional - expulsos de suas comunidades para se tornarem, na melhor das hipóteses, trabalhadores braçais não qualificados. Lavradores, quilombolas e grupos indígenas perdem suas terras - e com isso, as condições de manter suas práticas culturais - expulsos pela ganância do agronegócio.

    Os Pontos de Cultura criados na gestão Gilberto Gil estão abandonados em muitas regiões do país. Músicos e poetas das periferias das grandes cidades não conseguem recursos para mostrar sua arte para o resto do país.

    Pequenos grupos de teatro, que sobrevivem graças à Lei do Fomento criada na sua gestão na Prefeitura de São Paulo, dificilmente conseguem levar sua produção cultural para outros Estados, muito menos para outros países.

    Não prossigo indefinidamente com exemplos que sei que são de seu conhecimento. Termino com uma afirmação que me parece até banal: em um país tão desigual quanto o nosso, fundos públicos só deveriam ser utilizados para possibilitar o crescimento de quem não tem acesso ao dinheiro privado.

    Tão simples assim. Por isso estou certa de que, a cada vez que o MinC, o MEC, o Ministério da Saúde e quaisquer outros agirem na direção oposta à da diminuição da desigualdade, a sociedade brasileira vai se indignar. As expressões dessa justa indignação é que hão de "manchar a imagem do Brasil no exterior".

    Respeitosamente,

    Maria Rita Kehl.

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