Anton Tchekhov e o Pôr do Sol
Por Luciano Loureiro
Quando penso em Tchekhov, ou
melhor, nos tempos dramáticos de suas peças, a imagem que sempre me vem é a do
tempo - que aparentemente não se move - do Pôr do Sol... Fenômeno cotidiano, mas
possuidor de uma sutileza e força que ultrapassa a mera forma exterior do
momento, das circunstâncias. O Pôr do Sol - sua apreciação - assim como a dramaturgia
de Anton Tchekhov, não se apresentam como mera forma exterior, mas como algo
que se liga intimamente à sua própria essência, exigindo de nós um tempo...
Construindo vagarosamente... Um tempo do olhar e de se sentir...
Mas exatamente que tempo
seria esse?
Aquele tempo que raramente
nos concedemos. O tempo da respiração lenta e profunda, da contemplação, do ver realmente o que se passa, da entrega e temperança. Na dramaturgia de A.
Tchekhov esse tempo se faz presente e necessário para que certa atmosfera se
instaure, chegue perto, lentamente, sem fazer muito barulho. Às vezes, ou quase
sempre, pesada, colorindo, melancolicamente, as cenas, os lugares e as pessoas
que ali habitam. Pessoas reflexivas, que vão desenhando paulatinamente um
estado interior, as características, as mentalidades, o comportamento. Tudo devidamente temperado, misturado pelo
conflito. O pensamento guiando cautelosamente os movimentos da alma e encontrando
o silêncio...
Se o intelecto é suscitado,
então a emoção e o pensamento são coagidos a entrar neste jogo. Um jogo radical, profundo, subterrâneo, de
ações confinadas e doloridas. Um jogo que parece ser refém da palavra.
No realismo o “texto” parece
ser de suma importância, ...será?
Então, o que dizer da
solidão que invade a vida dessas pessoas que habitam esse lugar (in)definido
pelo autor? Desta sensação de isolamento que cerca e aprisiona a todos sem condescendência? Um sentimento de
solidão que não se revela apenas pela temática, mas em diálogos surdos,
frequentemente dissolvidos em uma espécie de monólogo. Onde cada um é
forçosamente isolado de si mesmo. Fator humano que parece ser essencial para
Tchekhov caracterizando e definindo sua obra.
Estritamente falando,
podemos dizer que a obra de Tchekhov – especialmente seus dramas da maturidade
– apresentam, por antecipação, algumas características, traços marcantes que
irão determinar novos caminhos para o drama moderno. O toque impressionista e
certa aura de decadência moral serão uma constante no teatro.
A personagem titubeante, aflita, ansiosa por uma
vida melhor... por uma outra vida...! Um ser frustrado e massacrado num
ambiente desolador. Incapaz de gritar para o mundo que seria capaz – quem sabe em
outras circunstâncias – de realizar-se como pessoa.
É nesse tempo do Pôr do Sol que a autonomia das
personagens, de seus caracteres, supera a própria psicologia do autor.
Luciano Loureiro
Março de 2012
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PS. Este texto pode ser utilizado, integralmente ou em parte, desde que respeitado os direitos autorais e citação do autor.
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