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sexta-feira, 30 de março de 2012

Anton Tchekhov e o Pôr do Sol


Anton Tchekhov e o Pôr do Sol
Por Luciano Loureiro

Quando penso em Tchekhov, ou melhor, nos tempos dramáticos de suas peças, a imagem que sempre me vem é a do tempo - que aparentemente não se move - do Pôr do Sol... Fenômeno cotidiano, mas possuidor de uma sutileza e força que ultrapassa a mera forma exterior do momento, das circunstâncias. O Pôr do Sol - sua apreciação - assim como a dramaturgia de Anton Tchekhov, não se apresentam como mera forma exterior, mas como algo que se liga intimamente à sua própria essência, exigindo de nós um tempo... Construindo vagarosamente... Um tempo do olhar e de se sentir...

Mas exatamente que tempo seria esse?

Aquele tempo que raramente nos concedemos. O tempo da respiração lenta e profunda, da contemplação, do ver realmente o que se passa, da entrega e temperança. Na dramaturgia de A. Tchekhov esse tempo se faz presente e necessário para que certa atmosfera se instaure, chegue perto, lentamente, sem fazer muito barulho. Às vezes, ou quase sempre, pesada, colorindo, melancolicamente, as cenas, os lugares e as pessoas que ali habitam. Pessoas reflexivas, que vão desenhando paulatinamente um estado interior, as características, as mentalidades, o comportamento.  Tudo devidamente temperado, misturado pelo conflito. O pensamento guiando cautelosamente os movimentos da alma e encontrando o silêncio...
Se o intelecto é suscitado, então a emoção e o pensamento são coagidos a entrar neste jogo.  Um jogo radical, profundo, subterrâneo, de ações confinadas e doloridas. Um jogo que parece ser refém da palavra.

No realismo o “texto” parece ser de suma importância, ...será?

Então, o que dizer da solidão que invade a vida dessas pessoas que habitam esse lugar (in)definido pelo autor? Desta sensação de isolamento que cerca e aprisiona a todos sem condescendência? Um sentimento de solidão que não se revela apenas pela temática, mas em diálogos surdos, frequentemente dissolvidos em uma espécie de monólogo. Onde cada um é forçosamente isolado de si mesmo. Fator humano que parece ser essencial para Tchekhov caracterizando e definindo sua obra.

Estritamente falando, podemos dizer que a obra de Tchekhov – especialmente seus dramas da maturidade – apresentam, por antecipação, algumas características, traços marcantes que irão determinar novos caminhos para o drama moderno. O toque impressionista e certa aura de decadência moral serão uma constante no teatro.

 A personagem titubeante, aflita, ansiosa por uma vida melhor... por uma outra vida...! Um ser frustrado e massacrado num ambiente desolador. Incapaz de gritar para o mundo que seria capaz – quem sabe em outras circunstâncias – de realizar-se como pessoa.

É nesse tempo do Pôr do Sol que a autonomia das personagens, de seus caracteres, supera a própria psicologia do autor.

Luciano Loureiro
Março de 2012

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PS. Este texto pode ser utilizado, integralmente ou em parte, desde que respeitado os direitos autorais e citação do autor. 

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