O momento é positivo, já que há muita produção e um número insuficiente de salas na cidade
RIO - O local é o mesmo, no segundo piso do shopping da Rua Siqueira Campos 143, em Copacabana. No foyer, haverá fotos e cartazes de peças e shows que tornaram célebre o teatro. Pouca coisa além disso lembrará que no espaço do novo Tereza Rachel, com reabertura prevista para o fim deste mês, existiu o velho Terezão.— Ficou o melhor: a história e o cimento — diz Frederico Reder, o produtor que arrendou o teatro da atriz Tereza Rachel por dez anos e está comandando uma reforma radical em que só sobrou mesmo o cimento do piso e das paredes.
Até o nome mudou: Teatro Net Rio — Sala Tereza Rachel. Por meio da chamada Lei do ICMS, de dedução fiscal, e também com investimento direto, a empresa será a patrocinadora do espaço. Ou melhor, dos espaços, pois ainda no primeiro semestre será inaugurada a Sala Paulo Pontes, no passado apenas um local para ensaios. Ela terá cerca de 200 lugares, enquanto o Terezão, fazendo jus ao apelido, terá 789.
— Não posso ignorar a história deste teatro. Os deuses não me perdoariam. O perfil da programação será o mesmo que o teatro tinha e que foi a razão de seu sucesso: diversidade e liberdade de expressão. É a cara de Copacabana — afirma Reder.
A história do Terezão começou em 1971 com o show de Gal Costa "A todo vapor", também conhecido como "Fa-tal". Pelo mesmo palco, passaram Secos & Molhados, Dzi Croquettes, Bibi Ferreira — estrelando "Gota d’água", por exemplo — e muitos outros. A reinauguração será com o show "Bibi 90", comemoração dos 90 anos que a atriz e cantora completa em 2012. Em seguida, Marília Pêra fará um espetáculo de Charles Möeller e Claudio Botelho dedicado ao centenário de Herivelto Martins.
Nascido em São Gonçalo e criado no Rio, o ator e diretor Frederico Reder dá com apenas 28 anos um passo grande na carreira de produtor. Seu jeito agitado e sua fala quase compulsiva espelham a ambição que tem. Realizador do sucesso "Tango, bolero e cha cha cha", ele quer firmar seu nome na história do teatro carioca durante os dez anos em que estará à frente do novo Tereza Rachel.
— E eu tenho prioridade na renovação — avisa, já pensando em ficar mais tempo.
Reder assume que precisou ser muito insistente para convencer Tereza Rachel, que, mesmo com dívidas, já havia rejeitado sondagens da Prefeitura do Rio e do Sesc. Entre 2001 e 2008, o teatro esteve alugado para a Igreja Universal do Reino de Deus. Recentemente, foi usado como local de ensaios por Charles Möeller e Claudio Botelho. O produtor não conta quanto está pagando à atriz, mas deixa clara a disposição de recuperar todo o investimento.
— Sou um empreendedor. Faço o negócio que mais amo na vida, mas é um negócio — diz. — Meu grande ídolo é Walt Disney. E o que ele criou não está nas mãos de sua família. Eu espero deixar os frutos do meu trabalho para a minha filha, que está com 8 anos.
De segunda a segunda
O seu projeto prevê a ocupação da Sala Tereza Rachel de segunda a segunda. Ele já acertou a ida do programa "Palco MPB", da Rádio MPB FM, para o teatro — hoje ele acontece no Rival. Será às segundas-feiras, e às terças haverá shows de artistas da gravadora Biscoito Fino.
Os espetáculos teatrais terão quatro horários: noites de quarta e quinta; noites de sexta a domingo (principais atrações); sessões à meia-noite às sextas e aos sábados; e, nas tardes de sábado e domingo, peças infantis.
— Para mim, teatro é público. E eu gosto de todo tipo de público — afirma Reder, que traça um arco nos preços dos ingressos, da entrada franca (caso do "Palco MPB") a R$ 150.
O da Sala Paulo Pontes deverá ser mais alternativo, pois o palco abrigará produções teatrais e musicais menores. O objetivo de Reder é manter movimentado um shopping que já foi protagonista da cena teatral do Rio — além do Terezão, existia o Opinião, mais tarde Arena — e uma região revalorizada pela pacificação das favelas em volta.
— Acho que a reabertura do teatro pode ser a semente da revitalização da Copacabana original — sonha ele.
O fascínio por tempos idos se reflete no visual que o Tereza Rachel terá. As paredes são de tijolos, e haverá muitos elementos remetendo ao passado, como cavaletes do século XIX no foyer e vitrolas (com LPs) nos banheiros.
— Como diz meu diretor de conceito, Guilherme Pondé, é chique nostálgico — diverte-se Reder, que também conta na reforma com o arquiteto Pedro Kastrup, o cenógrafo José Dias e o iluminador Paulo César Medeiros, além da irmã Juliana, sócia na produtora Brainstorming.
A tecnologia do século XXI entra no projeto, por exemplo, nas TVs de LED que ficarão na fachada do teatro dando informações sobre a programação e exibindo depoimentos de gente que participou da história do Terezão. E é uma fachada ampliada, pois Reder arrendou mais três imóveis (dois antiquários e um estúdio fotográfico), aumentando o teatro de 1.300 metros quadrados para 1.500.
A volta do Tereza Rachel e também do Serrador acontece num momento do Rio em que há muita produção e um número insuficiente de salas. Na esfera privada, os novos donos do edifício da Manchete estudam a reabertura do teatro que existe no local. O grupo EBX, de Eike Batista, diz que mantém o compromisso de construir um teatro, já que acabou com o que havia no Hotel Glória. O Copacabana Palace ainda não tem planos para reabrir o seu.
Mais teatros a caminho
No âmbito da secretaria estadual de Cultura, o Villa-Lobos, destruído por um incêndio, só volta em 2014, mas neste ano surgirão os teatros da Biblioteca Pública Estadual, no Centro, e das bibliotecas de Manguinhos e da Rocinha. Para 2013 estão previstas uma sala no Alemão e outra no novo Museu da Imagem e do Som.
A secretaria municipal de Cultura, que incorporou o Teatro Ipanema à sua rede, promete para o fim de abril o Imperator — que poderá receber grandes espetáculos —, para 30 de maio a arena da Penha e para 30 de junho, a de Guaratiba.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/teatro-tereza-rachel-reabre-no-fim-do-mes-totalmente-reformado-4126584#ixzz1o7TTIBqP
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